Caro João,
Estranho começar essa carta escrevendo como se você fosse uma pessoa qualquer.
E sim, nós sabemos que você não é uma pessoa qualquer. Afinal de contas você já foi meu. E desculpa se isso lhe soar egoísta, confesso que nesse instante não consigo me importar com o que você acha. Não que isso seja ruim. Tampouco acho que bom.
Apenas acho, e isso é mais um dos meus achismos, que você não deveria ter se rendido a minha ausência de forma tão fácil. Sinto como se tivéssemos abandonado nossa jornada antes mesmo dela começar. Sinto que meus pés não saem do chão totalmente, o que com toda certeza me impede de levantar e seguir adiante em sua direção. Talvez eu seja um pouco covarde em não assumir meus medos.
Mas assumo que tenho medo de não ser mais aquele pelo qual você se apaixonou.
Afinal, somos feitos de uma matéria que exige que as mudanças ocorram, por menores que elas sejam. Tenho medo de você não me entender quando mais uma vez eu me postar à sua frente, limpo de corpo, porém vazio de alma. Até agora, de frente para essa tela em branco, me pergunto o por quê de me separar de você.
E antes que a pergunta se faça completa em minha cabeça eu já tenho a resposta. Separei-me por que nunca estivemos juntos. Nunca consegui trazer você realmente para perto de mim. (No fim era sempre eu contra mim mesmo). E você há de continuar em meus pensamentos e ações, só que cada vez menos presente, de forma que um dia essa dor que hoje insiste em permanecer no meu peito, já não mais existirá.
Não ter você dói de uma forma que você nem pode imaginar, mas sei que essa dor é necessária para que eu seja feliz um dia.
Pois estou expurgando do meu coração o que nele habita: você. E em quantidades absurdas. Mas vai passar. Eu espero.
Seja feliz.
Do seu,
PEDRO