"Dopamina" foi lançado em 10 de agosto de 2010, mas como "Egoísta" demorou a entrar em diversos chats musicais, sua gravadora decidiu adiar o lançamento do videoclipe 01 de fevereiro de 2011. Com a volta de divulgação, Belinda comentou que "Gaia" deveria ser lançado como o terceiro single, mas logo foi adiado e substituido por "Lolita".
"(...) Como vês, Capitu, aos quatorze anos, tinha já idéias atrevidas, muito menos que outras que lhe vieram depois; mas eram só atrevidas em si, na prática faziam-se hábeis, sinuosas, surdas, e alcançavam o fim proposto, não de salto, mas aos saltinhos."
quinta-feira
DICA MUSICAL: DOPAMINA, BELINDA
"Dopamina" foi lançado em 10 de agosto de 2010, mas como "Egoísta" demorou a entrar em diversos chats musicais, sua gravadora decidiu adiar o lançamento do videoclipe 01 de fevereiro de 2011. Com a volta de divulgação, Belinda comentou que "Gaia" deveria ser lançado como o terceiro single, mas logo foi adiado e substituido por "Lolita".
segunda-feira
quinta-feira
PEDRO E JOÃO...
Pedro era filho único.
João tinha três irmãos.
Pedro morava com o pai. Era órfão de mãe.
João não sabia quem era o pai, a mãe nunca lhe revelou quem era.
Pedro curtia olhar as estrelas, tinha paixão por astrologia.
João era cético em todos os aspectos.
Pedro não era muito bom em matemática.
João era capaz de guardar na cabeça o teorema de Pitágoras.
Pedro tinha alma livre, dizia que se nada desse certo montaria um hotel na Bahia.
João queria casar e ter uma vida sem grandes aventuras.
Pedro desistiu dos estudos quando tinha dezesseis.
João formou-se com honra aos dezessete. Aos dezoito estava na faculdade.
Pedro chegou atrasado na festa no barzinho freqüentado pela galera.
João foi praticamente arrastado à confraternização dos calouros da faculdade.
Pedro ficou interessado no rapaz careta que parecia estar incomodado com aquele ambiente.
João sentiu uma coisa estranha ao olhar aquele jovem com cara de hippie que o olhava fixamente.
Pedro pensou em pedir-lhe o telefone.
João ameaçou perguntar seu nome.
Pedro tomou coragem e foi em sua direção.
João pegou um copo de bebida e virou num gole só.
Pedro olhou João nos olhos.
João desviou o olhar.
Pedro puxou-lhe pela mão.
João se deixou levar.
Pedro beijou João.
João não esboçou reação.
Hoje Pedro namora João, e juntos planejam casar.
João trabalha à noite, e estuda durante o dia.
Já Pedro cuida da casa, mas ainda sonha em ir pra Bahia.
SEMPRE TE AMEI NUNCA TE DISSE
Nos dias de hoje a coisa mais fácil de ouvir de alguém é um “eu te amo”. Ouvimos tantos e em diversas ocasiões. Tanto se fala eu te amo de maneira avulsa, que toda a força contida na frase se perdeu. Ou melhor, perdeu metade da força. Relacionamentos hoje são cada vez mais vazios e ninguém quer se prender a ninguém. Casamento virou sinônimo de sofrimento para alguns. Todos querem a liberdade de amar cada vez mais pessoas, mesmo que esse amor exista apenas da boca pra fora. Eu quero isso também, mas amar e deixar o outro livre é tão difícil. Difícil pra caramba. As mulheres, que antigamente eram as que mais se interessavam por casar, constituir família e etc, hoje em dia querem passar bem longe de uma igreja. Todos estão ocupados demais vivendo suas próprias vidas, não querem ter mais uma preocupação, por isso se dedicam a conquistas de apenas uma noite. O que seja eterno enquanto dure dura uma noite e nada mais. Não digo que buscar o amor seja errado. Eu busco o tempo todo. Só acho uma perda de energia essa busca torta. Eu sou piegas, sou cafona, sou tudo mais o que você quiser que eu seja. Tudo por que? Por que eu ainda acredito no amor.
(P.S: BOM, ACHO QUE ESSE ERA O MOMENTO PREU DIZER QUE DISCORDO DE TUDO O QUE ESCREVI ACIMA E DIZER QUE FAÇO EXATAMENTE O CONTRÁRIO, MAS VOU FRUSTRAR VOCÊ MEU/MINHA CARO/CARA BALADEIRO/A QUE PEGA 10 NA BALADA. VOCÊ PODE CONTINUAR SUA VIDA DE PEGAÇÃO, MAS PODE TER CERTEZA QUE UM DIA VOCÊ VAI ENCONTRAR A TAMPA DA SUA PANELA, A METADE DA SUA LARANJA, O QUEIJO DO SEU CHEESEBURGUER, A BATATA DO SEU MAC DONALDS, O CAMARÃO DO SEU ACARAJÉ...)
SEMPRE EXISTE UMA POSSIBILIDADE...
Tudo é possível, já dizia nossa filósofa Ana Hickmann. Fiquei a pensar nesses dias como tudo nessa vida é relativo. O tempo se encarrega de mudar as coisas de lugar, de remanejá-las, e cabe a nós aceitar. Ou não.
Eu na maioria das vezes não aceito. Ou melhor, custo a aceitar, isso quando aceito. É inerente ao ser humano o hábito de fazer planos, de planejar muitas vezes milimetricamente seus ideais, seus planos, seus trabalhos, enfim, sua vida. Só que a gente se esquece que nem tudo é do jeito que queremos.
No mundo existe uma força invisível que se encarrega de colocar tudo em seus devidos lugares ou, mais trágico ainda, espalhar as coisas como o vento faz com a areia no deserto. Gosto de pensar que sempre existe uma outra possibilidade para tudo o que nos acontece. Buscar outra alternativa é um exercício de amor próprio impressionante, que faz com que você saia da zona de conforto busque o caminho ideal para sua vida.
Eu acredito em destino. Uma vez ouvi que acreditar em destino é uma maneira de abster-se das responsabilidades de suas ações. Não concordo. Ou talvez concorde. Mas não deixei de acreditar em destino. Coincidências não existem. O que existem são histórias escritas pelo mesmo autor, que vez ou outra se cruzam.
Existe a possibilidade de desconstruir tudo aquilo que foi pensado para nós ou quem sabe até destruir aquilo que nós mesmos construímos. A busca pelo próprio caminho faz com que muitas vezes a nossa história tenha que ser interrompida bruscamente, como numa virada de página, onde sempre temos a oportunidade de escrever o próximo capítulo da história.
Mas mesmo nosso destino é possível ser mudado. A força do pensamento e das suas palavras são energias capazes de modificar seu futuro. Eu sei que parece um pensamento meio hippie, mas não deixa de ser verdade. Ou meia verdade, não se atenha apenas ao que ler nesses escritos, afinal de contas, existe sempre a possibilidade deu estar errado.
segunda-feira
ANTES QUE TUDO ACABE
ANTES QUE TUDO ACABE...
(Foco no centro do palco. Uma pequena mesa com uma cadeira onde o personagem se encontra sentado de costas para a platéia. Aos poucos se vira para platéia, a olhar um ponto fixo, como se estivesse em transe. De repente ele desvia o olhar para uma arma em cima da mesa.)
ALVARO – Culpado. Não consigo me lembrar do momento exato que cheguei a este ponto no qual me encontro agora. Essa agonia que me perturba me acompanha desde que me entendo por gente. Culpa. Uma angústia desmedida, uma sensação de que nada que eu faça, por melhor que seja, vai ser bom o suficiente. Busquei a realização nos livros. Passei a ignorar o mundo real e só acreditava naquilo que podia ler. Cresci cada vez mais submerso na solidão das letras. Era de se imaginar que eu me tornasse escritor por causa disso. Era o que todos achavam. Era o que eu achava. Mas não foi o que aconteceu. Tornei-me escrivão. Isso mesmo. (Irônico) Nada mais nada menos que um digno escrivão de polícia. No começo consegui ignorar a crueza daquele ambiente gélido, certo de que eu nada tinha a ver com aquele lugar, mas com o passar do tempo, fui criando um certo prazer em conviver com aqueles homens asquerosos que se diziam fazedores da lei. Putas, bêbados, ladrões, assassinos e estupradores. Com todos convivi, absorvendo numa ânsia infernal suas histórias, seus medos, eu me alimentava das suas fraquezas. Crescia em mim um prazer mórbido em escrever linha por linha de seus depoimentos, acrescentando vez ou outra um detalhe que eu julgava necessário. EU ERA DEUS!! E daí que não fossem detalhes reais? Quem haveria de investigar? Todos se diziam inocentes. E alguns realmente eram. Mas era impossível distingui-los dos demais. Sempre me julguei incapaz de me envolver com seus clamores de piedade, seus pedidos de ajuda. Até conhecer Tereza. Tereza surgiu num fim de tarde cinzento. (Som de caixa de música, porta jóias) Sua imagem surgiu nebulosa, em meio à nuvem de fumaça de cigarro que imperava no ambiente. Passou por mim em direção às celas. Por uma fração de segundo tive a sensação de que me lançara um olhar. A princípio julguei que fosse um olhar de desejo. Depois, ao analisá-lo melhor, percebi se tratar de um olhar de desdém, no máximo, de curiosidade. É. Talvez seja essa a palavra certa. Curiosidade. Segui seu corpo com o olhar. Por um momento pensei em interromper sua passagem e convidá-la para tomar um café. Ora, logicamente que minha intenção passava longe de tomar um simples café. Aquela mulher me atraía de maneira perigosa. E eu gostei disso. Decidi que convidaria Tereza para o café. Esperei impaciente que terminasse sua visita. A propósito, viera visitar um primo, envolvido com alguns assaltos. Um, dois, três, quase uma carteira de cigarros depois, Tereza voltou. Ao passar por mim, novamente me lançou um olhar. Pude perceber o quão tristes eram seus olhos. Olhos de angústia. Uma angústia na qual eu me reconheci. Segui seus passos pela rua gelada, fruto de uma chuva na noite anterior. Não demorou para que ela se notasse seguida. Virou-se e sem nenhuma surpresa por me encontrar ali, dirigiu-se até mim e me beijou. Um beijo diferente de todos. Sua língua percorreu minha boca com uma intensidade, que me fez ter medo, e recuei. Surpresa deu-me as costas, disposta a seguir em frente. Avancei e segurei seu braço. Levei-a pra minha casa. E ali mesmo, no meu refúgio, entre livros e bitucas de cigarro, comi Tereza. Nosso caso durou cerca de quatro semanas, onde nos encontrávamos dia sim, dia não. Tereza conseguia se fazer presente ma minha vida. E assim foi, até o dia que revelou que iria me deixar. Atônito só pude fazer a pergunta mais óbvia de todas: Por que? Minha pergunta ficou sem resposta. Vi com tristeza, ela arrumar seus pertences, e cruzar a porta numa despedida silenciosa. Assim se foi Tereza. Caí em depressão profunda. Afundei me em álcool e drogas, transformando-me no que realmente todos esperavam que eu me tornasse, um nada. Procurei Tereza por todos os lugares que imaginei que fosse encontra-la. Puteiros, favelas, hospitais, delegacias. Mas não tive êxito em nenhum desses lugares. Era como se ela tivesse evaporado. Sumido no ar, como se nunca tivesse existido. Tempos depois, quando a imagem de Tereza já era nada mais que uma penumbra, encontrei-a a caminhar pelas ruas do centro da cidade. Mostrou-se surpresa ao ver meu estado deplorável. Pedi-lhe que fosse comigo para casa. Ela se negou. Disse-lhe que se não fosse, me mataria. Olhou-me duvidando. Pela minha expressão percebeu que eu falava sério. Decidiu me acompanhar. Tivemos uma tarde de regrada a luxúria e perversão, perversão essa que atingiu seu ápice quando atirei em Tereza, que surpresa, esboçou seu ultimo sorriso, caindo inerte no chão. Agora, me dirijo pro mesmo lugar que Tereza. Ao único caminho possível para mim. A morte.
(Ele levanta e pega uma arma. Tenta atirar, ela falha, ele tenta algumas vezes, todas as tentativas falham. Ele sai, à medida que um black toma o palco. Ouve-se um som de tiro. A arma funcionou.).
quinta-feira
De
Olhos Fechados
DE THIAGO RIBEIRO
Personagens:
Nestor
Alberto
Simone
(Abrem-se as cortinas. Alberto e
Simone estão sentados nas cadeiras. Estão exaustos, como se estivessem saindo
de uma longa jornada. Copos vazios em cima da mesinha de centro denunciam uma
vigília de longas horas. Alberto cochila. Está visivelmente exausto. Simone
folheia um álbum de fotografias. Vez ou
outra para e contempla saudosamente uma foto. Entra Nestor. Assim como os
outros dois, está abalado e com um aspecto horrível de quem não dorme há dias).
Nestor (sentando) – Pronto. Assinei
todos os documentos necessários para o enterro.
Simone (fechando o álbum) – Ainda bem
que você está aqui, Nestor. A Nice não tem condição nenhuma de resolver
qualquer coisa agora. E também nem poderia, dadas as circunstâncias.
Nestor – Eu ainda não consigo
acreditar que tudo isso está acontecendo. O Heitor ali, naquela sala, morto. Engraçado,
num segundo tudo que a gente viveu, tudo que a gente tem pra viver some,
desaparece como num passe de mágica.
Simone – Realmente. A morte é uma
coisa difícil de enfrentar.
Nestor – Tudo é difícil de enfrentar
quando se perde a fé na vida.
Simone - E quem disse que o Heitor
tinha perdido a fé na vida?
Nestor – Não era segredo pra ninguém
que ele tava tendo crises de depressão mais uma vez.
Simone (alisando o álbum, saudosa) –
Mais uma daquelas intermináveis crises. Eu lembro que quando a coisa apertava
ele ligava pra minha casa pedindo colo. Dizia que me amava, e que somente eu o
compreendia. No fundo ele era infeliz. Mas não queria admitir. Queria sempre
manter a pose de intelectual acima do bem e do mal. Se achava no direito de não
preocupar os outros com seus problemas.
Nestor – Ele sabia dessa imagem que
você tinha dele?
Simone – Sabia. Nós não tínhamos
segredos um com o outro. É por isso que quando a coisa estava feia, era eu que
ele procurava.
Nestor (pensativo) - A gente sempre
volta para o lugar onde foi feliz quando a coisa aperta.
Simone (acende um cigarro) – Você
acredita que o Heitor era feliz? (oferece um cigarro) Quer um?
Nestor – Não, obrigado. Parei há um
tempo.
Simone – Você não me respondeu. Você
acredita que o Heitor era feliz?
Nestor – Depende do que você chama de
felicidade. O que é pra você?
Simone – O quê?
Nestor – Felicidade.
Simone – Sei lá. Ter uma vida
estabilizada talvez? Filhos encaminhados, um casamento sem vícios, um emprego
seguro.
Nestor – Ou seja, uma vida regrada e
sem emoções.
Simone – E quem disse que pra ser
feliz é preciso ter emoção? Tendo uma vida segura e um lugar pra me esconder do
mundo quando a coisa apertar, eu já me dou por satisfeita.
Nestor (distante) – Eu não me imagino
vivendo sem emoção. Viver sem emoção pra mim, é viver sem felicidade.
Simone
- Pois pra mim o mais importante é viver. Seja com emoção ou não. E não
terminar desse jeito como o Heitor. Morrer por um motivo que eu nem sei direito
se existe.
Nestor
– O suicídio é que nem traição. Não precisa de um motivo, e sim de um lugar pra
acontecer.
Simone
– É duro pensar desse jeito, mas é uma verdade que nós temos que encarar assim
mesmo.
Nestor – No fundo, no fundo o Heitor
era só um sonhador. Um louco romântico que ainda acreditava nas pessoas.
Simone – No fundo, no fundo, todos nós
ainda acreditamos nas pessoas, Nestor. Só que cada vez, com menos convicção.
(Alberto se mexe e muda de posição na
cadeira)
Nestor – O Alberto tem sorte de
conseguir dormir. Eu não consigo pregar o olho faz três dias. O sono tem
fugido. Com certeza pra me poupar de rever os antigos fantasmas.
Simone – Fantasmas não existem Nestor.
O que existe é a dor na consciência. Saber que o Heitor morreu brigado com você
não deve ser uma coisa muito agradável. Ainda mais vocês dois, que eram tão
amigos.
Nestor – Nós não brigamos. Apenas
discordamos de alguns pontos de vista. É diferente. O Heitor não se conformava
da minha opinião política. Esse negócio dele ser de esquerda afetou seriamente
nossa relação. Não que eu me importasse, mas ele era um cara que queria sempre
impor a opinião dele.
Simone – Não era assim, também Nestor.
O Heitor era um cara que queria o melhor pro país.
Nestor – E eu quero o quê? Por acaso
eu quero que o Brasil vá à merda? Não. Só que eu quero que o meu país esteja em
primeiro lugar em alguma coisa que não seja futebol e samba.
Simone – Sim, meu querido, só que para
isso você precisa botar a mão na massa e não ficar só criticando. Era isso que
o Heitor queria que você entendesse.
Nestor – Botar a mão na massa? Mais do
que eu já faço? Me matar naquele jornal, tentando despertar uma consciência
política nas pessoas não vale de nada?
Simone (Irônica) - Com certeza. Meter
o pau na política através de uma coluna num jornal que todo mundo sabe que é
pau mandado do governo faz muita diferença. Ô Nestor! Essa sua cruzada não
serve pra nada. É dar murro em ponta de faca.
Nestor (Irritado) – É por isso que eu
evito conversar com você sobre esse assunto. Vocês jamais vão conseguir entender
as minhas posições. Eu já passei do estágio de acreditar que eu tenho o poder
de influenciar alguém. Ainda escrevo no jornal, mas sabendo que isso não vai
modificar grande coisa.
Simone – Pensando desse jeito você vai
contribuir menos ainda. Sem paixão não se consegue mudar o mundo, Nestor. A
gente tem que acreditar que a menor atitude poderá render grandes
acontecimentos.
(Alberto acorda com a discussão)
Alberto (Sonolento) – Que discussão é
essa? Trocando farpas novamente?
Simone (maternal) – Ô Alberto. Vai pra
casa, tomar um banho, descansar. Você ta aqui desde cedo. Precisa descansar um
pouco.
Alberto – Obrigado Simone, mas eu não
quero deixar o Heitor aqui. São nossos últimos momentos juntos. (Pensativo)
Sabia que hoje faz dois anos que voltei da Europa? Eu tava numa puta
insegurança em relação ao que me esperava aqui no Brasil e ele foi me encontrar
no aeroporto. Fiquei hospedado dois meses na casa dele. Até saber o que fazer
da vida. (Despertando) A Simone te mostrou o álbum Nestor?
Nestor – Que álbum?
Simone – Ainda não mostrei a ele
Alberto. (Para Nestor) A Nice encontrou no meio das coisas do Heitor no
escritório. É um álbum com fotografias dos nossos momentos de amizade plena,
como ele costumava dizer. (Pega o álbum e estende a Nestor) Toma!
Nestor – (Hesita) Não sei se devo
reviver essas memórias. O que passou, passou.
Alberto – Você não costumava ser assim
tão duro. O que aconteceu?
Simone – Deixa Alberto, ele está se
fazendo de durão, de muito forte. Mas no íntimo ele não está tão seguro assim
como quer aparentar.
Nestor – E não estou mesmo. Sinto uma
dor me apertando o peito, uma angústia que não me deixa em paz...
Simone - Culpa. Culpa por não está
sentindo a morte do nosso amigo como deveria.
Alberto (repreendendo-a) - Simone!
Simone – Mas é verdade Alberto. A
verdade é que o Nestor sempre teve inveja do Heitor, por que o Heitor era um
homem de palavra. Um homem que ia trás do que queria, dos seus sonhos. Mesmo
que batesse com a cara na parede, ele ia em frente. Um homem de verdade.
Nestor (tenso) – Pára, isso não é
verdade!
Simone – Você sabe que é verdade
Nestor. Diz logo de uma vez por todas que você não suportava a idéia de não ser
o homem que o Heitor era. Diz.
Nestor – (explodindo) Chega! Chega! Eu
não vou confessar nada! Eu não tenho nada pra confessar. Eu tenho sentimentos
pombas. É claro que eu estou sentindo a perda do Sérgio. Mas eu não tenho que
ficar chorando por aí, pra mostrar o quanto eu admirava ele.
Simone – Palavras, palavras. Palavras
ao vento constroem grandes discursos, Nestor. Você mais do que ninguém devia
saber disso.
Alberto – Chega! Simone! Nestor! O que
está acontecendo? Eu não estou reconhecendo vocês. A gente tá aqui pra se
despedir do Heitor! Esse fogo cruzado não vai trazer ele de volta. Pôxa gente!
Nós estamos aqui por ele! O cara que fazia a gente se sentir importante. (A
Nestor) O cara que agüentou seus porres quando a Lúcia quis se separar de você,
Nestor. (A Simone) O cara que foi te buscar quando você teve aquela crise de
depressão por causa da morte da sua mãe lá no interior de Minas. O cara que se
importava com a gente.
Simone (Chorando) – Desculpa gente.
Mas é que o Heitor não tinha o direito de fazer isso. De me abandonar à própria
sorte. Sem ninguém.
Alberto (abraçando-a) – Ô minha amiga.
Eu tô aqui. Do seu lado. Eu acho que a gente deve se apoiar nesse momento. Como
a gente sempre fez nas horas difíceis.
Nestor (levanta e vai olhar pela
janela) – O problema é que a gente só tem tido momentos difíceis. Porrada atrás
de porrada. A minha vida vale menos que os meus problemas.
Alberto – A vida tem o valor que a
gente dá a ela, Nestor. Aprende uma coisa: nós somos as sombras das nossas
decisões. A culpa da morte do Heitor pode ser do acaso, do destino, do que você
quiser chamar. Mas não é nossa. Não é sua, não é da Simone, não é minha, não é
de ninguém. Ele desistiu de viver. O que mais poderia ser feito? Nada!
Simone – Não Alberto! Eu sei que eu
poderia ter feito alguma coisa pra impedir que ele fizesse essa loucura.
Alberto – Simone, Simone! Pare de
pensar como se você carregasse o mundo nas costas. O Sérgio ia levar o plano de
suicídio dele adiante com ou sem você por perto. (Pega o rosto de Simone nas
mãos) Você não ia impedi-lo. Você não tem esse poder.
Simone – Sabe que esse seu conformismo
me espanta? Você aceita as coisas tão passivamente.
Alberto – Não é conformismo, é uma
aceitação do óbvio. Ninguém muda o pensamento de ninguém. Mesmo que você
pudesse influenciar um pouco na decisão do Heitor, ele só ia mudar de idéia, caso
ele quisesse. Portanto minha querida, se isente dessa culpa sem sentido.
Simone (Se levanta) – Eu vou lá na
sala ver se a Nice tá precisando de alguma coisa. Vou trazer um café. Vocês
querem?
Nestor – Eu quero sim.
Alberto – Eu to legal.
(Simone sai. Nestor se senta na
cadeira e desaba).
Nestor – Meu Deus do céu! Como eu
queria que se abrisse um buraco na terra e me engolisse! Me levasse pra longe
desses problemas.
Alberto – Se isso fosse possível, eu garanto
pra você que metade da população mundial já teria sumido. E eu meu caro, seria
um desses sortudos.
Nestor (Surpreso) – Você? Difícil de
acreditar que o rei do bom senso tenha vontade de sumir do mapa.
Alberto – Tem muitas coisas sobre mim
que vocês não sabem. A começar por essa idéia de que eu sou bonzinho de
nascença, o compreensivo, o ombro amigo, o colo que todo mundo procura.
Nestor – E não é?
Alberto – Não. A gente nem sempre é
aquilo que demonstra ser.
Nestor – Por que?
Alberto – Medo talvez.
Nestor – Medo? De quê?
Alberto – Sei lá. Da vida, do que os
outros vão achar. De si mesmos. As
pessoas deixam de fazer o que vale a pena pra fazer o que a sociedade acha
certo. E o que é bom pros outros nem
sempre é bom pra gente.
Nestor – Eu nem sei o que é bom pra
mim mais. Minha vida anda tão sem sentido.
Alberto – Pois dê um sentido a ela!
Saia, viaje, conheça gente. Transforme essa tristeza sem sentido num motivo pra
viver. Não esqueça que a vida passa. Num instante tudo o que a gente poderia
ter feito e não fez, cresce e vira uma imensa frustração. Um sentimento de
culpa por não ter tentando, e raiva de si mesmo por não ter tido a coragem de
arriscar.
Nestor (desiludido) – Ouvindo você
falar assim parece fácil. Mas eu não tenho mais idade nem disposição pra ficar
me aventurando dessa forma desregrada que você está sugerindo.
Alberto - E vai fazer o quê? Vai ficar
parado vendo o tempo passar sem nenhuma perspectiva. Sem sonhos nem ambições?
Nestor – Eu deixo o sonho para os
jovens. Pra quem tem a vida toda pela frente. Pra quem ainda acredita que esse
mundo pode ser mudado. Pra quem acha que a vida pode valer a pena num país como
esse.
(Entra Simone trazendo uma bandeja com
cafezinhos).
Alberto – Pois saiba meu querido amigo, que enquanto
houver um sopro de ar nos meus pulmões, eu vou continuar acreditando que a vida
vale a pena. (A Simone) E a Nice? Como ta?
Simone – Como pode né, coitada.
Fazendo sala pra um monte de gente que não fala de outra coisa a não ser sobre
como o suicídio afeta o desenvolvimento espiritual do morto. Saí da sala depois
de dois minutos. Não agüentei essa hipocrisia.
Alberto – Minha querida, as pessoas
precisam se agarrar em alguma coisa. Uma tábua de salvação para mantê-las
vivas. A religião é só uma forma de driblar os mistérios do universo.
Nestor – O Heitor tinha pavor a
misticismo. Dizia que acreditava em uma força superior e só. O resto era fruto
do fanatismo e da carência das pessoas.
Simone – Eu fico me perguntando o que
vai ser da Nice agora. O que será que ela vai fazer? Voltar pra Minas pra morar
com os pais?
Nestor – A Nice é uma coitada. Passou
a vida toda tentando compreender o Heitor.
Simone – A verdade é que o Sérgio não
amava a Nice. O que ele precisava era de alguém que estivesse a postos toda a
vez que batesse a insegurança. E a Nice era esse alguém.
Nestor – Eu acho isso uma coisa
extremamente cruel. Usar uma pessoa como porto seguro, sem que ela receba nada
em troca.
Simone – No entanto vocês homens fazem
isso o tempo todo.
Nestor – Taí! A história sempre
descamba pro lado da sexualidade. Vocês mulheres não conseguem separar
comodidade de machismo.
Simone – E o que é o machismo senão
uma forma muito primária da comodidade masculina heim? Me diz!
Alberto – Sabe o que eu acho? Que
vocês estão levando a coisa pro lado pessoal. A Nice sempre soube que o Heitor
não morria de amores por ela. Era uma relação estranha. Uma simbiose, talvez.
Simone – Uma mulher jamais aceita
viver com um homem que não a ame, a não ser que ela alimente a ilusão de que um
dia, vai receber de volta tudo o que deu a ele. Dava dó ver a pobrezinha
ligando pra todos os amigos do Heitor de madrugada pra saber se onde ele
estava.
Alberto – Quase sempre na farra.
Nestor – Era um grande farrista, nosso
amigo Heitor! Era um homem que sabia aproveitar o melhor da vida.
Alberto – E o que seria o melhor da
vida?
Nestor – Pára de encher o saco com
essas perguntas sem sentido Alberto.
Alberto – Mas a vida é uma aventura
sem sentido meu caro. Só nos resta aproveitar. Embarcar sem ter hora pra
voltar.
Nestor – Eu já te disse que não tenho
mais...
Alberto (Imitando-o) – ... tempo nem
disposição para tais aventuras. Você precisa se jogar mais Nestor. Simone,
acredita que nosso grande jornalista está em crise de meia idade?
Simone (pegando o álbum) – Claro que
acredito. O tempo passa pra todo mundo e o Nestor não é uma exceção à essa
regra!
Alberto – O Heitor era uma exceção.
Mesmo com o passar dos anos, ele continuava com o mesmo jeito de vinte anos
atrás.
Nestor (Irritado) – Exceção de quê?
Por acaso ele era mais homem que todos os homens? Vocês estão criando uma
imagem mítica de um cara que era gente de carne e osso como eu.
Simone (magoada) – Ele era mais do que
um homem.
Nestor – Só falta agora você me dizer
que o Heitor era um deus.
Simone – Ele era sim, mais que um
homem. Ele era alguém que não se importava com mesquinharia. Que era capaz de
tirar a roupa do corpo e dar pra quem não tinha nada só pra poder fazer o bem.
Por isso morreu assim. Por se atormentar demais com os problemas dos outros.
Alberto - Também não é assim Simone. O
Heitor era uma pessoa maravilhosa, um ser humano ímpar, mas ele se matou por
que não aguentava mais viver preso a essa vida que ele levava.
Nestor – Que vida? Que eu saiba o Heitor
não tinha problemas financeiros, não era doente, não tinha nenhuma questão
existencial, nada disso.
Simone - Como não tinha? E as
depressões heim? Você acha depressão pouca coisa?
Nestor – Pouca coisa não! Mas um bom
psicanalista resolve.
Simone – Nossa! Quanta sensibilidade!
É difícil acreditar que você tenha sido amigo do Heitor. Vocês são como água e
vinho.
Alberto – Por isso eram amigos. Não é
nas semelhanças que se constroem as amizades. Mas nas diferenças. A gente busca
no outro, aquilo que gostaria de ter ou de ser.
Simone – É. Faz sentido.
Nestor – Essa sua última viagem te fez
muito bem Alberto. Você voltou mais sereno. Mais tranqüilo.
Alberto – É o amor meu caro.
Simone – Amor? (Curiosa) Você ta
namorando Alberto? Quem é?
Alberto – Não tô namorando ninguém.
Estou num relacionamento comigo mesmo. Eu me basto!
Nestor – Queria ter esse seu otimismo.
Alberto – Não é otimismo meu amigo. É
amor próprio. Resolvi deixar de investir em tudo que me fazia sofrer ou que não
valia a pena. Agora eu invisto em quem gosta de mim. E no topo da lista estou
eu! Me amando e botando pra cima, como tem que ser.
Simone – E assim caminha a humanidade.
Cada vez mais torta.
Alberto – E cada vez mais
interessante.
Nestor – Pra quem gosta de viver
perigosamente?
Alberto – Não! Pra quem gosta de
enfrentar os desafios da vida!
Simone – O Heitor gostava de um bom
desafio.
Nestor – É. Gostava.
(Black. Quando a luz acende Alberto e
Simone estão vendo fotos no álbum. Ambos estão rindo, relembrando os
acontecimentos das fotos).
Alberto – Olha só você aqui! Dezesseis
anos. Bela como uma escultura grega.
Simone (agradecida) – Não exagera
Alberto. Eu era bonitinha. Simpática. Nada mais. Não tinha nada de escultura
grega.
Alberto – A beleza está nos olhos de
quem vê. Ou melhor, de quem quer ver.
Simone – Nessa época eu era uma pessoa
menos amarga. Dá pra ver pelo brilho nos meus olhos.
Alberto – Você era mais feliz?
Simone – Eu achava que sim. Era mais
iludida. Tinha uma ilusão sobre tudo. Sobre o amor, sobre a profissão, sobre a
vida.
Alberto – E hoje não tem mais nenhuma
dessas ilusões?
Simone – Perdi todas elas, uma a uma.
Pouco a pouco. No final, nem foi uma perda tão ruim. Aprendi a encarar as
coisas como elas realmente são. Sem firulas ou romantismo.
Alberto – Nossa! Do jeito que você
fala, parece até que nada mais vale a pena.
Simone – Eu cheguei num ponto em que
preciso pesar todas as minhas decisões para ver se minhas ações valerão a pena.
E acredite, metade delas não vale.
Alberto - Sabe o que ta faltando na
sua vida? Amar de novo. Se apaixonar de novo. Achar um cara que te desperte o
tesão pra vida novamente.
Simone (ri nervosa) – Que irônico você
falar de vida num ambiente desses.
Alberto – Vida e morte vivem
interligadas querida. Uma faz parte da outra.
Simone (olhando uma foto) – Olha só
essa aqui. Nesse dia eu levei o Denis pra conhecer o Heitor.
Alberto - Sempre achei que você fosse
apaixonada por esse cara. Jurava até que vocês iam se casar.
Simone – Não meu amor, eu ainda não
tenho coragem de enfrentar a morte cara a cara.
Alberto – Mas quem está falando de
morte? Eu estou falando de casamento.
Simone – E o casamento é o quê senão a
morte?
Alberto – Nossa Simone! Que visão
pessimista da coisa.
Simone – Não é pessimista Alberto. É a
mais pura realidade. Você pega um casal desses, tipo o Nestor e Lúcia. Dezoito
anos de casamento. E a felicidade? Existe? Claro que não. Se foi no exato
momento em que eles disseram “sim” no altar.
Alberto – Tem gente que tem uma visão
mais romântica do casamento. Mocinhas de
novela sempre terminam bem.
Simone – Não terminam não. A maioria
delas sempre acaba casando. E isso pra mim não é final feliz.
(Nestor entra)
Nestor – Ainda revirando o passado?
Imaginando tudo o que poderia ser diferente se a gente tivesse optado por
outros caminhos?
Simone – Você acha mesmo que a gente
tem esse livre arbítrio todo? Honestamente, eu não me julgo tão importante.
Nestor – Como assim? Não entendi.
Simone – Isso de poder decidir sobre o
que fazer da vida.
Alberto – Ninguém sabe o que fazer da
vida. Alguns até supõem o que querem e vão seguindo de uma forma meio doida,
mas saber mesmo ao certo, ninguém sabe.
Nestor – Eu acredito na mão de Deus.
Simone – Muito mais cômodo colocar a
culpa nas costas de Deus.
Nestor – Se é cômodo eu não sei, mas
que é mais prático, isso é.
Alberto (divertido) – Uma vez meu
analista me perguntou se eu tinha alguma idéia de onde vinham os meus
problemas.
Simone – E o que você respondeu?
Alberto (divertido) – Eu disse que se
eu tivesse essa resposta eu não estaria fazendo análise.
Nestor – Bela resposta.
Alberto – Eu conversei muito com o
Heitor sobre isso. Essa minha mania de tentar achar uma explicação lógica e
racional pra tudo. Ele disse que eu tinha que deixar de ser mais racional e me
tornar mais passional.
Simone – Ser passional não ajuda em
muita coisa. Pelo contrário, faz você
perder o controle da situação.
Alberto – Tem momentos em que perder o
controle é a coisa certa a se fazer.
Simone – Não sei onde isso se aplica.
Alberto – Eu quis dizer que você ter
tudo programado, esquematizado na sua vida, é um saco. O bom é você poder
acordar de manhã e poder fazer tudo diferente. Jogar tudo pro alto. Fazer
exatamente o inverso do que foi programado. Não por que alguém determinou, mas
por que você quis.
Simone – Isso é uma utopia. Só os
ricos fazem isso.
Alberto – E os hippies.
Simone (rindo) – É verdade. Ás vezes
eu queria que o tempo congelasse. Que eu parasse de envelhecer, de criar
cabelos brancos e de cansar ao menos esforço físico. Queria tudo se conservasse
assim.
Nestor – O que vocês acham que passou
pela cabeça do Heitor pra ele fazer uma coisa dessas?
Simone – Confesso a você que eu daria
um dedo da mão pra saber.
Alberto – Você sabe.
Simone (espantada) – Sei?
Alberto – Sabe. Você sabe, o Nestor sabe,
eu sei. Todo mundo sabe. Heitor morreu porque cumpriu a sina dele aqui. Morreu
por que achou que já tinha vivido tudo o que valia a pena. Morreu pra se
preservar da piedade alheia.
Simone – Mas o Heitor não tinha por
que ser vítima da piedade alheia. Se tem uma coisa que ele nunca foi, foi
vítima.
Alberto – Existem muitas formas de ser
vítima. Nós somos vítimas o tempo todo. Só que uns são conscientes, outros não.
Nestor – Eu fui vítima de uma
instituição chamada família. Nunca consegui manter a minha feliz por muito
tempo. Fracassei nesse ponto.
Simone – Pelo menos você tentou meu
caro. Pior foi o meu caso, que nem ao menos me dei ao luxo de arriscar. Lapsos
de covardia me impediram de tentar mais esse auto-suicídio.
Alberto – Por que você acha que falhou
nessa questão familiar?
Nestor – Pelo simples fato de não
conseguir que as pessoas que estavam no meu lado se sentissem seguras,
confortáveis. Felizes mesmo!
Simone – E você se culpa por isso?
Nestor – E existe outro culpado?
Alberto – Deus?
(Os três riem)
Simone – O que vai ser de nós agora?
Sem o Heitor pra nos apoiar?
Alberto (distante) – Vamos ter que
encontrar nossos próprios caminhos. Sem ajuda. Sem piedade.
Nestor – A vida continua. O Heitor
parou a vida dele, mas a nossa segue adiante.
Simone – Vou pedir a Nice pra me dar o
álbum de lembrança. Vai ser uma recordação dos nossos bons momentos.
Alberto (num rompante) – Sabe o que
estava pensando? Que a gente poderia ter mais momentos como esse heim? Vamos
pegar um avião pra bem longe daqui. Um lugar onde a gente seja livre. Sem
cobranças, sem mundo real, sem nada que nos obrigue a...
Nestor – Chega Alberto. Chega de
tentar fugir dos problemas. Aprende uma coisa. Não importa o quão longe você
esteja. Os problemas vão sempre te perseguir. Você pode fugir de tudo e de
todos. Mas não pode fugir de você mesmo.
(Alberto começa a chorar copiosamente.
Simone o abraça).
Alberto – Eu que devia ter ido no
lugar dele. Eu que deveria ter morrido.
Simone – Não diz isso Betinho! Você
mesmo falou. Ninguém tem culpa de nada. Isso foi uma fatalidade.
Nestor (olhando no relógio) – Vamos
embora. O enterro já vai sair.
Simone (abraça Alberto) – Eu vou no
banheiro dar um jeito no rosto e dar uma força pra Nice. Trata de se ajeitar pra
seguir com a gente. (Com a voz embargada) Como você quer que eu siga sem meu
porto seguro, hã? Quem vai lidar com as minhas inseguranças, heim? (Alberto
sorri forçado, limpa os olhos com a manga da camisa) Levanta e vem com a gente.
Tô te esperando lá fora.
(Sai)
Nestor – Ta sendo difícil pra mim
também. Pode acreditar. Eu vou sentir falta dele. Mais do que você possa
imaginar. (Pega no ombro de Alberto. Vai dizer mais alguma coisa e desiste.
Sai.).
(Alberto se levanta. Anda de um lado a
outro. Vê o álbum na mesa de centro. Senta e abraça-o. Chora)
Alberto - E naquele momento eu pude
perceber que nada mais seria com o antes. Que minha alegria nunca mais seria a
mesma. O meu sorriso não seria mais verdadeiro. Não sem você. A sua ausência
meu amigo, me fez perceber o quanto é importante se dizer certas coisas. E na
hora certa. Às vezes eu me arrependo das oportunidades que desperdicei. As
palavras que ficaram engasgadas na garganta. Se o tempo pudesse voltar, talvez
eu fizesse tudo diferente. Talvez tivesse me empenhado mais para que você
soubesse o quanto é importante para mim. Agora eu me encontro num lugar
estranho, com pessoas estranhas, com sentimentos estranhos. E em todos os
momentos em que me sinto solitário, olho para as estrelas e me lembro de você.
Isso faz com que eu me sinta forte novamente. Sei que esteja onde estiver, você
está me iluminando com sua presença confortadora. A vida é um ciclo. Uma
sucessão de acontecimentos que independem da nossa vontade. Se dependesse de
mim, jamais você teria ido embora. Se dependesse de mim, você estaria aqui.
Comigo.
(Black)
Fim
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