terça-feira

VIAJANDO POR ENTRE NUVENS E FORMAS

*texto escrito coletivamente por Thiago Ribeiro, Priscila Pimentel, Amanda Shapovalov, Maurício Almeida, Juliana Paixão e Liliane Pires, na escola de teatro da UFBA.
                             NUMA TARDE DE SEGUNDA FEIRA AO QUASE POR DO SOL JUCA E BRUNO OLHARAM AO MESMO TEMPO PARA O CÉU. DA FRONDOSA E ENCORPADA ÁRVORE ONDE ESTAVAM, EXAMINAVAM O CÉU ATENTAMENTE A PROCURA DA NUVEM MAIS BONITA QUE EXISTISSE. E LÁ, NO CÉU, ENTRE BICHOS E OUTRAS FORMAS VIAJARAM NUMA VELOCIDADE QUE SÓ SE ATINGE QUANDO SE USA TODO O PODER DA SUA IMAGINAÇÃO, IMAGINAÇÃO ESSA QUE SÓ AS CRIANÇAS POSSUEM EM VASTA QUANTIDADE.

                OS MENINOS NEM VIAM O TEMPO PASSAR, DE TÃO ENTRETIDOS QUE ESTAVAM. APONTAVAM EXCITADOS PARA O CÉU SEMPRE QUE VIAM SURGIR POR ENTRE AS NUVENS UMA FORMA DIFERENTE. UM COELHO, UM CAVALO, UM VELHO, UM MENINO; ERA UMA IMAGEM SE FORMANDO ATRAS DA OUTRA, IMAGENS VAGAS, IGUAIS AS MEMORIAS SOLTAS DAS  SUAS VIDAS. SUBITAMENTE, BRUNO PAROU DE CONTEMPLAR O CÉU E VIROU SE PARA JUCA DIZENDO COM A CARA SÉRIA:
- Você já percebeu que o mundo não gira mais?
- AH! Ra-ra-ra; o mundo ta girando você é que não percebeu! – respondeu Juca, certo de que eras mais esperto que o irmão.
BRUNO NÃO SE DEU POR VENCIDO:
- Digo que não, veja bem! Você lembra-se de quando podíamos voar?
JUCA FICOU PENSATIVO. NÃO SÓ LEMBRAVA-SE DE QUANDO PODIA VOAR COMO TINHA CERTEZA DE QUE PODERIA FAZÊ LO DE NOVO SE ASSIM QUISESSE. CONCENTROU SUA ENERGIA NAQUELA IDEIA E COMEÇOU A FLUTUAR EM DIREÇÃO AO CÉU, AINDA QUE SEU CORPO NÃO TIVESSE SAÍDO DA COPA DA ÁRVORE.
OLHOU PRA BRUNO E DISSE:
- VEM!
E BRUNO O SEGUIU, SEM NEM PERGUNTAR PRA ONDE. VOAVAM POR ENTRE AS NUVENS. NESSA LONGA VIAGEM TENTAVAM APRISIONAR NUMA PEQUENA GAIOLA IMAGINÁRIA PEDAÇOS DE NUVENS, NUVENS ESSAS QUE FUGIAM AMEDRONTADAS. EM DADO MOMENTO, NUM PROVIDENCIAL GOLPE DE SORTE um dos meninos agarrou uma enorme barra de chocolate que por ali passava. Sua alegria se dissipou ao perceber que aquele sonho doce lhe escapava pelas mãos.
DECIDIRAM ENTÃO VOLTAR PARA A TERRA E NUM PISCAR DE OLHOS ESTAVAM NOVAMENTE NO QUINTAL DA CASA DO AVÔ, NA VELHA GOIABEIRA. A ÁRVORE QUE OS ACOLHIA EM TODAS AS SUAS AVENTURAS.
- Vamos fazer uma casinha na árvore ? – PERGUNTOU JUCA.
- Seria bem legal! Podíamos até pescar no riachinho que passa aqui perto. Hum! Adoro camarão! – RESPONDEU BRUNO.
E PUSERAM SE A PENSAR E TRAÇAR OS PLANOS DA CONSTRUÇÃO DA NOVA MORADA. SERIA FORTE, RESISTIRIA A TROVÕES E TEMPESTADES, SERIA O ESCONDERIJO PARA ESCONDER TESOUROS ROUBADOS DE PIRATAS, SERIA O CASTELO QUE HOSPEDARIA REIS E RAINHAS QUE POR ALI PASSASSEM. OU NA MENOR DAS HIPÓTESES, SERIA ONDE SE ESCONDERIAM CASO MAIS UMA VEZ JUCA QUEBRASSE A JANELA DO VIZINHO COM UMA PEDRA DO SEU ESTILINGUE.
SUBITAMENTE, JUCA PERGUNTOU:
– Bruno você lembra quando tínhamos que trabalhar?
– Era cansativo!... Agora é muito melhor.
– É! Sou mais feliz agora também.
– Agora é que é bom. Não temos preocupações. Comemos algodão-doce, maçã do amor, brincamos com carrinho de rolimã, sete pedras, picula, elástico, nossa! Que maravilha! Deu vontade de descer da árvore, reunir a galera e brincar até cansar! – concordou Juca.

- Tu se lembra de quando a gente pegava maçã pra comer aqui escondido da minha tia?
- Lembro pouco... Acho que tô perdendo a memória da minha infância.

Juca fica de frente para Bruno, que faz cara de decepção. Juca olha algumas folhas de jornal no chão, se abaixa, pega uma folha de jornal, amassa ela toda até formar uma bola, olhando para a bola de jornal amassado ele estende o braço para Bruno..

- Veja! Agora você lembra? – diz sorrindo para o irmão. – O mundo é que nem essa folha de jornal, a gente pode dar a forma que a agente quiser.
EMPOLGADO, BRUNO JÁ IA RESPONDER QUANDO PAROU ASSUSTADO.
- Você está ouvindo? – PERGUNTOU BRUNO
- O que? – DISSE JUCA
- Uma voz, JUCA.
-PARECE QUE É... A árvore que tá falando...
E num misto de excitação e medo pararam para ouvir o que a velha árvore dizia:
...E o tempo será infinito. E vocês poderão transcender. E as brincadeiras irão fazer vocês viajarem por diferentes paisagens. Mas, apenas tenham cuidado com uma coisa: o mau-humor. Ele poderá fazê-los retornar ao início da viagem, ou então, ir para o mundo das sombras.

Juca, já mais seguro de si, respondeu:
- Ah, Dona Árvore, se os pensamentos ruins vierem, é só apagar com borracha.
As pessoas começaram de repente a rejuvenescer? Ou os espelhos já não refletiam apenas o exterior? A questão é que as perguntas já nem eram tão importantes, pois a vontade de correr para rua e bolar novas brincadeiras e remodelar as antigas, sempre numa nova algazarra, superava qualquer outro desejo. Sorrisos garantidos, rugas perdidas e dias seguidos... Dias atípicos passaram a ser os que o Sol resolvia seguir seu velho caminho de iluminar e apagar, e permanecia cá e lá, e fazia mais horas de luz e brincadeira.
-              Bruno, para onde vamos?
-              Depois do lanche?
-              Não, Bruno! Para onde vamos todos nós? Para onde vão as horas? Que faremos no futuro?
-              Ah, Juca, não sei... Sei que inventar faz parte do futuro e passado de todos nós. Vamos seguir fazendo o novo, e rindo com ele.
-              E você ainda chora, Bruno?
-              Sim... E nesses dias fico pesado como nuvem de abril. E despenco em lágrimas e chovo muito... Dissipo e recomeço!

Nenhum comentário: