segunda-feira

Chuva agora, quem sou eu no meio da névoa?

Quero se livre...
Meu sonho? Tomar um banho de chuva...














A chuva cai em cântaros nessa cidade estranha na qual me encontro. Uma chuva densa que tem por finalidade lavar toda a sujeira que permanece oculta pelas sombras da noite ou pelas cinzas do dia. Penso que talvez eu devesse me colocar debaixo dessas águas abençoadas para que minha alma fosse purificada, para que meu corpo permanecesse isento da maldade desse mundo cão. Contemplo com um olhar perdido os rostos tristes e sem esperança dos milhares que passam por mim diariamente no seu frenesi incontrolável. Todos temem algo, ou alguém. Todos buscam alguma coisa, ou alguém. Algo que os transforme em seres realizados. Meu olhar vazio percorre vielas, becos vazios e ruas povoadas de gente. Meus passos me levam adiante sem que eu possa me dar conta de para onde estou seguindo. É como se uma força dentro de mim se manifestasse, uma força que eu não conhecia. O frio que se instala em mim quando abro a janela do ônibus vazio, me trás à lembrança de quando era criança, e que todos os meus problemas se resolviam cobrindo a cabeça com o lençol da cama. Observo a paisagem ao meu redor. É um misto de loucura com desejo, uma fórmula que eu jamais saberia explicar. Assim é essa cidade. Um lugar que me desafia a todo instante. Dotada de uma força descomunal, essa cidade tem a capacidade de testar todos os meus limites. Nela chego ao topo ainda desejando ir mais além. Organizo os pensamentos que vem em alta velocidade na minha cabeça. Uma esquizofrenia se apossa do meu ser, e no minuto seguinte decido que já não sou eu mesmo. Sou qualquer, eu sou de qualquer lugar. Eu sou do mundo, sou o quem o mundo quiser que eu seja. Eu sou uma fera que corre contra o vento buscando o prazer de estar liberta. Eu sou a fúria nos olhos dos guerreiros que por aqui passaram anos atrás. Eu sou o ciúme que percorre as veias do amante, eu sou o desejo que corrói os jovens enamorados, eu sou a raiva de um coração desprezado, a desilusão que mutila o sonho daqueles que não conseguem ir além das dificuldades que encontram pelo caminho. Num súbito lance de lucidez retorno para minha realidade cotidiana, onde sou esse ser que todos vêm, mas que ninguém consegue decifrar, que mantêm dentro de si um mundo que pulsa, vibra e sofre. Carne, sangue e coração.


Na solidão encontro todas as forças que necessito para sobreviver nesse mundo...

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