Hoje é um domingo como todos os outros. Passei o dia trancado no quarto ouvindo música e assistindo. Assisti a minissérie “Maysa – Quando Fala o Coração”. E fiquei ouvindo “É o Amor”, na voz abençoada de Maria Bethânia, enquanto me entregava aos meus devaneios. Li “ A Outra Face”, de Sidney Sheldon, o qual devolverei à biblioteca, juntamente com “O Vampiro Lestat”, que por sinal, pulei trechos enoooooomes que eram pedantes demais.
Enquanto revezava minha trilha musical, optando ora por Maria Bethânia ora Cássia Eller (com a belíssima “O Segundo Sol” do poeta Nando Reis) pensava nos meus amigos de infância. Imaginava onde estaria cada um deles naquela momento. O que estariam fazendo. Sabe, eu tenho uma mania muito louca que eu ponho em prática quando estou no ônibus. Eu tenho o costume de observar os prédios de Salvador e imaginar que tipo de pessoa mora em cada janelinha daquelas, se têm namorado(a), se saem para se distrair, o que pensam da política, do mundo, do aquecimento global, da vida!
E hoje eu imaginei como estariam meus (ex) amigos de infância. Na primeira escola que eu estudei, fiz um amigo que era como um irmão para mim, o que não é novidade já que, embora anti social eu me afeiçoou muito fácil às pessoas com quem pego amizade. Infelizmente, ou acredite se quiser, eu esqueci o nome desse meu amigo. Só me restaram lembranças vagas, flashes para ser mais exato. Me lembro do irmão dele que ia buscá-lo de bicicleta e então nos despedíamos prometendo um ao outro assistir ao episódio do dia de “Cavaleiros do Zoodíaco” desenho pelo qual éramos fanáticos, não perdíamos um episódio. Enfim, mudei de escola, mudei de ares e perdi o contato com meu amigo. Hoje ele não passa de uma vaga lembrança. Infelizmente.
O ARCO ÍRIS
Na minha segunda escola, o Colégio Arco Íris, fiz amizade com Érica. É interessante, por que nossa amizade começou pelo contrário. Tivemos uma briga feia na porta da escola. O caso é o seguinte. Birrento como eu era, arranjei briga logo nos primeiros dias de aula. Não me lembro o motivo. Só lembro que Érica e eu chegamos as vias de fato na frente da escola com todos os alunos em volta gritando. Depois desse incidente, viramos amigos,inclusive voltávamos pra casa juntos, já que morávamos na mesma rua.
Danilo foi quem me ensinou tudo sobre a diferença entre meninos e meninas. Falo no sentido sexual da coisa. Ele me dava aulas teóricas sobre sexo, como um grande entendido do assunto, que era como ele posava e eu acreditava que fosse. Tempos depois descobri que ele era meu primo de 2º grau. Pois bem. Danilo foi meu melhor amigo nos três anos em que passei nessa escola. Fazíamos trabalhos em dupla, brincávamos no recreio, enfim, melhores amigos mesmo. Pelos menos da minha parte.
Danilo tinha o péssimo hábito de roubar meus brinquedos, depois fazia aquela cara de santo e dizia: Thi, você sabe que eu não peguei né? Deve ter sido fulano! E eu (inocente ou idiota?) acreditava piamente no pilantrinha. E assim foram nos meus três anos na Escola Arco Íris. Lá conheci Michelle e Dayane, das quais falarei mais a frente. Tirando esses, não tive contato com mais ninguém que valha a pena. Quer dizer, tem mais um. Matheus.
Tenho a impressão de que Mateus já era nerd desde o útero da mãe. Branquinho e com uma voz meio fanhosa, ele era a inocência (e a safadeza com o passar dos anos!) em forma de garoto. Fanático por desenhos japoneses, o famoso POKÉMON era um desses, era um excelente aluno. Íamos à missa de quinta feira juntos. Em Esplanada era costume a missa de quinta feira ser especial, a missa das crianças. Porém, apesar de dar-nos muito bem, nós éramos (somos ainda) de realidades sociais diferentes, que eram claramente visíveis e me incomodavam. E muito. Exerci com Matheus o que Danilo fazia comigo: roubava seus brinquedos! (Risos) Na verdade pegava de volta, já que eu dava meus DIGIMONS, outro desenho japonês, para ele, que era insistente até dizer chega, e depois, quando eu me arrependia, sempre pegava de volta de uma maneira não convencional. Hoje eu acho graça, mas no fundo me arrependo pois acho que ele sabia disso e talvez por isso tenha se afastado de mim. Deve estar estudando em alguma mega faculdade por aí. Seja feliz Têu!!
Esqueci de dizer que Matheus tem uma prima, Priscila, que estudou comigo e que quase esqueci de mencionar. Priscila foi meu primeiro amor. Sério. Nos três anos que passei estudando com ela eu era caidaço por aquela garota sardentinha com uma voz doce e com jeitinho meio paty! Mas eu adorava! Era minha paixão secreta, nem Danilo sabia. Priscila cresceu e ficou mais bonita. Eu superei minha decepção amorosa (seria a primeira de muitas) e me tornei apenas um admirador da sua pessoa. Hoje ela é minha amiga de orkut e vez ou outra trocamos scraps. Foi uma paixão que eu curti. Arrasou meu coração infantil, mas foi legal.
No Arco Íris tive as minhas primeiras experiências negativas em relação a minha posição social. Minha mãe trabalha como empregada doméstica, a qual aliás, eu tenho muito orgulho, por que foi com esse emprego que minha mãe me criou e me sustentou e me ajuda até hoje. Mas enfim, por não ter a mesma disponibilidade financeira dos meus amiguinhos, várias vezes eu fui excluído do convívio. Eu me achava o pior dos garotos, sem parar pra pensar que eu tinha os mesmos valores que eles, por que eu podia não ter dinheiro, mas era inteligente, e era um artista, coisa que nenhum deles é (pelo menos não que eu saiba). Eu tinha um colega de classe que constantemente me chacoteava e me hostilizava. Ele se achava o último biscoito do pacote por ser filho do prefeito. Nos odiávamos, e eu desejava secretamente que o pai dele perdesse as eleições para que ele tirasse aquele sorrisinho prepotente do rosto. Um ano depois isso aconteceu, mas não tive, infelizmente, o prazer de ver a cara do dito cujo. Hoje não sei o que ele faz da vida, se não estou enganado, parece que é faculdade de Direito. Pelo histórico de criança, espero que não seja um profissional corrupto. (Veneno).
O ACM
Quando eu terminei a terceira série, após ter enfrentado uma puta recuperação, à qual inclusive eu tirei 9,5, feito que eu jamais tornaria a repetir, fui transferido, com muita dor no coração, de escola. Odiei. No começo. Comecei a quarta série no Colégio Municipal Dr Antônio Carlos Magalhães (ACM). Lá reencontrei Danilo que fora transferido também, para o terror da minha mãe, que o considerava uma péssima influência para mim. O ano 2000 foi um ano de mudanças. Conheci novos colegas e fiz outras amizades. Meu primeiro amigo foi Maílson, fanático por motos e velocidade. Também fiz amizade com Rafael, que estudou comigo até eu me formar em 2007.
Em 2001 eu conheci aquele que seria meu amigo mais valioso. Magno começou a estudar comigo na quinta série. Fizemos amizade logo. Fugíamos várias vezes no final da aula para jogar vídeo-game, fato que resultava em broncas e surras em casa, mas eu adorava, e invariavelmente, levava meu amigo para o mal caminho. Danilo nessa época tinha ido embora para São Paulo e eu já nem me importei muito, devido a uma ruptura na nossa amizade, talvez pelo fato de estarmos em escolas diferentes ou por estarmos crescendo, não sei o por que! Magno foi meu colega de classe até a sétima série, em 2003. Nesse ano eu passei por momentos difíceis. Graças ao péssimo relacionamento que tinha (e mantenho até hoje) com o meu padrasto, passei uma temporada morando na casa dele, juntamente com seu irmão, Henrique, dono de uma academia. Devo a ele todos os momentos de alegria que passei em meio aquele turbilhão que foi o ano de 2003. Hoje Magno continua em Esplanada e eu espero que surjam oportunidades bacanas para ele, pois ele merece.
Depois que Magno foi embora em 2004, eu fiquei sem amigos, Rafael só vivia a me sacanear e eu não queria uma amigo assim. Nessa época eu era o cdf da sala, apesar de ser péssimo em matérias de exatas. Apesar de tudo, passei direto para o segundo grau. Ia para um novo colégio.
O SAN MARINO
O Colégio Estadual Frei Gregório de San Marino era uma escola que eu detestava, até hoje não gosto de lá, tive experiências horríveis, mas também foi essa escola que me proporcionou reencontrar Dayane, Michelle, e Maílson (que tinha saído do ACM em 2004). Primeiramente me uni a Michelle. Eu estava trabalhando no quisque do pai dela, então a aproximação era óbvia. Éramos um grupinho: Erivaldo, Janaína, Michelle e eu. Colávamos juntos, ríamos dos outros juntos, enfim, era uma farra. Pelo menos no meu primeiro ano no San Marino (2005) foi assim. Depois, por motivos que não vêm ao caso, eu me afastei de Michelle, que não se revelou uma pessoa muito ética. Eu errei, ela errou, erramos todos. Nossa amizade, hoje eu digo com veemência, graças a Deus acabou!
Janaína era muito divertida. Muito mesmo. Me mijava de rir com as loucuras que ela dizia e com suas peripécias sexuais. Era uma louca. Nos abandonou no meio de 2006 para estudar à noite pois seu pai morrera e ela tinha que colaborar nas despesas da casa. Depois parou de estudar por que engravidou.
Erivaldo é um capítulo à parte. Ele é da mesma igreja do meu antigo vizinho. Conheci ele lá. Me espantei com a sagacidade daquele menininho mirradinho que dizia ter a mesma idade que eu. Duvidei. Na semana seguinte ele me trouxe a prova: uma prova sua da escola, mostrando que realmente ele estudava na sétima série e que tinha a minha idade (ele, aliás, é mais velho que eu um mês!). Mal sabíamos que dali a dois anos estaríamos estudando juntos. Foi uma das melhores coisas que o San Marino me trouxe. Eri é muito inteligente, uma super computador ambulante, saca tudo de informática, é um dos melhores atores cômicos com quem eu já contracenei, é um show de stand up comedy ambulante. Costumava passar os domingos na minha casa, onde desfrutávamos de um dia agradável rindo com as loucuras dele. Egocêntrico até dizer chega, aliás, o ditado “a modéstia é para os medíocres” cai como uma luva para ele. Eri é um cara com um potencial gigante, maior até que o meu, e que eu espero sinceramente que chegue lá. E ele vai chegar eu sei. Talento e competência não lhe faltam. É hoje, meu melhor amigo e a pessoa que eu mais confio!
Logo quando entrei no San Marino, a Rainha da Escola era Dayane Dórea. Estudei com Day no Arco Íris. Aliás, ela era um dos meus alvos e de Danilo. Nós a pirraçávamos por ela ser gordinha, isso antes do buylling (é assim que escreve?) entrar na moda, como é hoje. Pois bem, Day no ano de 2005 era a rainha do colégio. Popular, era amada ou odiada. Quase sempre os dois. Sabe axé, que o povo esculhamba mas se acaba dançando? Assim era Dayane. Amada ou odiada, nunca ignorada. E isso não passou desapercebido para nós, Eri e eu, calouros que adorávamos uma boa rixa e um bom desafio. Logo instaurou-se uma divisão de grupos, bem no estilo Malhação sabe? Claro que nós, a turminha do barulho éramos os mocinhos, e Day e seu séquito (Arlene e Franciele, a qual apelidamos de Escrava Isaura por fazer tudo o que a sinhá, ops, amiga mandava) eram as vilãs terríveis. Competíamos em tudo: melhores notas, melhores trabalhos, melhores redações, melhores conclusões e etc. Isso no nosso primeiro ano. No segundo, quando eu já estava decepcionado com a amizade de Michelle, me aproximei de Day. Devo admitir (e ela vai me matar por isso) que no início era por interesse. Sabia que se continuasse no fundão perderia de ano. E Day, sendo ultra cdf e excelente aluna e filha da biônica Fátima Dórea, a professora mais inteligente que eu já conheci, era perfeita para me ajudar a melhorar minhas notas e meu conceito junto com os professores. Porém meu plano falhou. E por que? Por que Day era minha cópia de saias. Venenosa e ultra sarcástica, nós combinávamos como acarajé e pimenta. E bota pimenta nisso. Tínhamos a mesma linha de raciocínio, que por sinal, era giga venenoso e que atingia certeiro feito uma naja indiana. (Risos) Me apaixonei pela rainha da escola e me tornei seu melhor amigo (eu acho, e ai dela se disser o contrário) até nossa formatura em 2007, daí cada um seguiu seu caminho. Hoje ela é uma dedicada aluna de Educação Física na Uneb além de fazer outro curso que não me lembro na UNOPAR. É uma danada a filha da mãe. Uma diva!
Como em toda boa escola (se bem que, aqui pra nós, o San Marino não se encaixa nessa categoria) também tínhamos o nosso nerd. Quer dizer, nosso aluno modelo. Diogo é inteligentíssimo e nunca se conformava com uma nota baixa. Em tantos anos de vida escolar, eu tinha encontrado alguém que pudesse rivalizar comigo, que vinha de uma escola em que eu era o queridinho, tanto pelo meu entrosamento com os professores (puxa-saquismo mesmo), como pelas minhas habilidades artísticas. Diogo era popular na escola pela sua sabida e amplamente divulgada inteligência e pelo seu bom mocismo, fato que fazia ele ser constantemente chacoteado por Eri. Mas ele não se abalava. Amante de Renato Russo, Cazuza e um bom rock anos 70, ele era uma amigo leal e que tinha um bom papo. Com ele você podia ter uma conversa que não fosse somente sobre mulheres e sexo. Ele tem uma irmã que foi o alvo de uma paixão platônica minha por dois anos. Mas depois eu aprendi que ninguém é de ninguém, e que eu tinha que superar. Superei. Superei rindo das situações amorosas que punham o Diogo embaraçado. Ele estava constantemente apaixonado por alguma garota que não o dava bola. Eu apostava que era pelo excesso de bom mocismo dele, já que, segundo a minha já provada teoria, mulher não gosta de homem certinho, gosta é de cafajeste, embora algumas não assumam. Diogo não poderia ser cafajeste nem se quisesse. É um cara gente boa que merece tudo de bom. E ele vai conseguir tudo que almeja. Sucesso Diogo!
Fiquei no San Marino três anos e conheci muita gente bacana: Diogo, Valdicarlas, Benício, Sérgio, Janaína, Thais, Mahiara... Bom, pode parecer pequena a lista mas se eu colocar todo mundo vou estar sendo falso, já que eu não gostava de todo mundo (risos). Foram três anos difíceis, mas gratificantes no final de tudo. Mas mesmo assim, a única coisa boa que tirei de lá, foram meus amigos.
Enfim, aqui acabo meu devaneio, lembrando figuras que marcaram minha vida, Amizades são como pérolas que devem ser preservadas. Senão depois ficam que nem eu aqui agora: perdido nas lembranças! E agora, ouço no meu mp4 Pedro Bial dizer que amigos vão e vêm, mas nunca abra mão dos velhos e bons que tem!
Por Thiago Oliveira