quarta-feira

Quando a Intolerância Ultrapassa os Limites.

Hoje (uma fatídica sexta-feira, 29 de Janeiro de 2010) é mais um daqueles dias em que eu não deveria ter acordado. Meu dia foi pesado. Impermeado de problemas. Eu sou um ímã de gente chata e grossa. Definitivamente. Já me disseram que a gente atrai aquilo que a gente é, então nesse caso eu devo ser insuportável. Tá, eu sei que ninguém perfeito, e que todos nos temos o lado negro da força lá dentro. O problema é que devemos perceber quando estamos machucando o outro.

Durante toda a minha vida eu convivi com pessoas que fizeram eu me sentir pra baixo várias vezes. Em casa, na rua, na escola... Enfim, em vários lugares. Com o tempo eu fui aprendendo a lidar com determinadas situações e pessoas. Eu já tentei, por exemplo, ser uma pessoa mais fechada, sem me importar com ninguém, ignorando a tudo e a todos, mas eu não consegui. Esse meu excesso de bom-mocismo em relação aos meus amigos é irritante. Não consigo tratar mal alguém que me trata bem. Tento, mas não consigo.

Sabe o que eu queria? Ter o domínio total da minha vida. Ser independente financeiramente, socialmente, enfim, viver do meu modo. Eu me sinto preso numa redoma de vidro que impede que eu viva a minha vida da minha maneira. Eu não tenho a liberdade que os meus amigos têm. Eu não moro na minha casa. Eu tenho que seguir regras que não são necessariamente úteis para mim.

Sabe que, agora eu entendo por que algumas pessoas que passam por situações humilhantes quando crianças / jovens, quando crescem e se tornam poderosos, viram pessoas frias e insensíveis. É o medo de novamente serem expostos a situações que os deixem vulneráveis de novo. Pise antes que te pisem!

Minhas férias estão passando sem que eu faça nada de relevante. Hoje eu tive a prova da pior coisa do mundo: a intolerância. Ou se não é a pior, é parecida. É horrível quando se chega a um estágio em que não há diálogo entre as pessoas. Quando apenas uma fala e a outra e obrigada a se rebaixar sem poder dar sua visão dos fatos. É o monopólio do poder. O ditado “manda quem pode, obedece quem tem juízo” cai como uma luva para a minha situação. E é por isso eu tenho que crescer. Tanto profissionalmente como quanto pessoa. Eu vou crescer. E eu não vou deixar ninguém me pisar. Não de novo.

Não, meu querido amigo virtual. Eu não vou virar um psico-empresário-sangue-frio-sem-escrúpulos-e-sem-coração (embora eu confesse que seja uma idéia tentadora!). Eu só acho que eu deva mudar meu jeito. Pelo menos enquanto minha situação social independe de mim. Nessas horas eu agradeço a Deus por ser ator! Por que se tem uma coisa que eu sei fazer, é fingir. Fingir que não me importo com os olhares tortos que eu recebo, com a insatisfação da minha presença.

Cara, eu não peço que ninguém goste de mim. Só peço que me aceite. Como eu sou. Um cara sonhador (talvez seja esse o meu problema) que tem a ambição de ter uma vida melhor, que possa fazer sua arte sem problemas, da melhor forma possível. Hoje eu sinto que morreu um pedaço do Thiago. A partir de agora eu vou pesar as oportunidades que aparecem na minha frente com uma balança extremamente favorável para o meu lado. Vou deixar que tudo siga do jeito que eu quiser, e não do jeito que escolherem para mim. Esse primeiro semestre vai ser decisivo para mim. Se não acontecer nada bom o suficiente, eu volto para minha antiga vida no interior. Lá estarei em casa, com a poderosa presença materna, e sem ter que ouvir coisas que eu não preciso escutar.

É lamentável, por que terei que abdicar de coisas que eu conquistei e que já fazem parte da minha história. Meus poucos e novos amigos, minha faculdade, minha companhia teatral, meus projetos, minha vida... Parece novela mexicana (risos) mas é verdade. É ruim ter que abandonar coisas pelas quais você batalhou. Mas fazer o quê? Como diz a canção do Charlie Brown Jr ,“cada escolha é uma renúncia, isso é a vida”. Mas eu também sei que o mundo dá voltas. E numa dessas voltas eu posso estar por cima da carne seca e você que me destratou pode precisar de mim. E aí meu caro, tenha pena de você. Por que eu não terei.


“Ele se encontrava numa sala de espelhos. Cada espelho refletia um estado de espírito seu. Tristeza, alegria, raiva, amor... Ficou parado diante do espelho que reproduzia a tristeza. Viu-se de repente sem a presença dos seus. Sem pais, amigos, sem uma presença confortadora que lhe afagasse os cabelos. Mas ele tinha o poder. Forçou-se então a ir até o próximo espelho. No momento seguinte ele estava radiante, certo de que nada no mundo o afetaria. Ele podia cruzar oceanos, escalar montanhas, lutar contra qualquer um que atentasse contra ele. Ele tinha o poder. Sem se dar conta, chegou até o terceiro espelho. E lá reviu todas as situações vexaminosas as quais tinha sido submetido. Pôde identificar cada um de seus adversários, mas eles não estavam preocupados com sua presença, agora novamente pequena, miserável. Olhou para si, e mesmo naquela terrível situação pôde constatar que ainda estava lá. Ele tinha o poder. Quase que mecanicamente passou para o último espelho. E não se viu. Ou pelo menos não o jovem de agora. Viu sua mãe a amamentar-lhe, viu seu pai o ensinando a empinar pipa, seus irmãos a persegui-lo para pregar-lhe uma prenda de aniversário, viu cercado do que mais importa para um ser humano. Viu-se cercado de amor. Olhando para si, ele então compreendeu. Ele não tinha o poder. Ele era o poder. Só o amor salva.”





POR THIAGO OLIVEIRA

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