quinta-feira

INVEJA



Abro meus olhos e me fixo no objeto de desejo. 

Ter e não ser: eis a questão! Tenho tudo o que quero, consigo tudo que almejo, mesmo assim, sou um constante escravo de uma coisa pequenina chamada DESEJO. Tenho posses, dinheiro, carros e luxo. Porém em meu pensamento, tudo o que tenho se torna relativamente pequeno se comparado com aquilo que meu semelhante vem a ter. Esse desejo que me angustia, essa vontade que me domina, é quase um inferno em vida, Eu me esforço para ser notado aonde eu chego. Eu sou bom naquilo que faço, mas não tão bom a ponto de despertar a atenção daqueles que estão num patamar acima do meu. Estou há dez anos no mesmo emprego, no mesmo cargo e nunca, jamais, em hipótese alguma consegui me sobressair em alguma coisa. Aí eu me pergunto: por que não eu? Minha falta de sorte é tão notável que nem mesmo a deliciosa alcunha de “funcionário do mês” eu consegui abocanhar. Até aí tudo bem, se você não levar em consideração o fato de que no meu setor só tem doze funcionários. Nesse exato momento eu me resignei a encarar os fatos como eles realmente são: eu sou uma vítima constante de um destino mal traçado. Preciso aprender a conviver com esse desejo que as pessoas têm em fazer da minha vida um inferno na terra.  Me incomoda ver a ascensão daqueles a quem julgo serem menores do que eu. Só de imaginar que alguém se apossou de alguma coisa que estava destinada a ser minha, meus instintos fervem. Desejo tudo o que eu mereço e ninguém mais tem o direito de ter aquilo que por ventura é meu. A insônia me acompanha nas noites em que me vejo a desejar aquilo que é do outro. Desejo com uma fúria alucinante, como se mil serpentes me açoitassem e com um furor desmedido, como se meu corpo ardesse feito um vulcão em fúria. Um desejo bestial, uma sede em adquirir o que é do outro, sabendo intimamente que o bem desejado, seria muito melhor aproveitado por mim. Sofro com essa loucura mórbida que se estende por cada parte do meu ser. O desejo que cresce e que me acompanha aonde quer que eu vá, esteja onde estiver. Fixo meus olhos em algo, ou alguém, e imediatamente sei que aquilo não deve existir caso não me pertença ou esteja subjugada a mim

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