quinta-feira

VAIDADE



Oi! Talvez você não me conheça. Mas é bem possível que já tenha escutado sobre mim.

Aliás, acho bem difícil que você não tenha ainda se descoberto encantada com meus atributos. Afinal, um exemplar da espécie humana como eu não é encontrado em qualquer lugar. Eu sempre tive consciência do meu papel na sociedade. Vim ao mundo para trazer mais beleza para ele. Trago comigo o desejo de ser cada vez melhor em tudo o que me proponho fazer. Nem preciso me esforçar para ter dos outros aquilo que quero. Um olhar, um gesto e todos caem aos meus pés. Mulheres, homens, velhos e crianças. Todos se rendem ao meu charme inigualável. Sei que tenho poder. O poder de ser quem eu quiser e de ter quem também me queira, ou seja: noventa por cento da população dessa cidade. Gritos histéricos, chantagens emocionais, a tudo sou submetido, como uma espécie de castigo por ser quem eu sou. Eu sou o pecado mais formal, eu sou o alvo do desejo de todos os mortais. Tenho tudo o que lhe falta. Sou o seu complemento em todos os sentidos. Sou senhor soberano e absoluto das tuas verdades, trago desenhado em meu peito a rota dos teus desejos. Aos que me desdenham, resta-me apenas um sorriso de canto de boca. Meus perfeitos lábios desenham em minha bela face a expressão de satisfação por ver em seu rosto, a vontade de me possuir, de me levar para casa. De fazer do meu corpo e da minha alma insensível   Um refúgio para tuas dúvidas e anseios. Não vivo neste mundo para ser servido e sim, para servir. Sirvo de alento para as inquietações da alma dos pobres seres que se debatem pela minha presença, que lutam entre si para conseguir um décimo da minha atenção. Sei que estou acima de todos eles. Por isso mesmo, tenho o dever de deixá-los usufruir de mim da maneira que eles, pobres mortais, acharem correta. Nunca estarei satisfeito, jamais me darei por vencido. Se sou o melhor, mereço receber o melhor daqueles que me cercam. Não tenho culpa de ser assim, se sou do jeito que sou, é por que necessito servir para alguma coisa. E sirvo para tudo: dos desiludidos aos desesperados, dos carentes afetivos ou até os abandonados.  Sirvo para quem não tem esperança, despertando nesses pobres coitados a esperança de me possuir. Sou uma alma indomável, amado, invejado, odiado ou admirado, porém jamais ignorado. Não me importo de ser assim, assim serei até morrer, apenas peço aos que me julgam sem me conhecer, que me conheçam por extenso, antes de dar o seu parecer, pois afinal sou o melhor em tudo, eu sou o tal, muito prazer!

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