quinta-feira

ESCOMBROS


ESCOMBROS - Por Fábio Tavares

Ingressos destacados, poltronas aquecidas com as respectivas bundas. Nenhum ator Global, mas sim atores Dramáticos e Comediantes. Sim, algumas carinhas jovens e bonitinhas, mas nenhum modelo ou ator de Malhação... embora todos estejam com seus respectivos cérebros muito bem malhados (risos)



Todos estão aqui estão a oficio da arte e conscientes que vão emprestar o seu corpo aos símbolos mais representativos do Terceiro Mundo, ou seja: o imperialismo, as forças negras, o catolicismo popular, o militarismo revolucionário, o terrorismo urbano, a prostituição da alta burguesia, a rebelião das mulheres, as prostitutas que se transformam em santas, das santas em revolucionárias. Numa conturbada desintegração da seqüência narrativa, porém, sem a perda do discurso, em um Texto cheio de intransigência mas de temperamento apaixonado. Da platéia, as reações serão positivas e aparentemente liberais, até que uma atriz - uma louca!- começará a falar de incesto, apesar de ainda se divertir – chegando a aplaudir em cena aberta - o teatro vai mergulhará no mais absoluto silêncio pousando na loucura e no desespero, na crueza e nas mazelas sociais, e ainda assim, ouve-se risinhos. Como toda tortura tem seu fim, o momento tenso passa e a plateia volta a gargalhar. E Gargalham diante da sua própria realidade miserável e cruel. E gargalham a ponto de mostrar o céu da boca sem perceber que ali esta sendo exposto a Boca do inferno aonde a vida de todos se encontra.


Ao nosso público brasileiro tão carnavalizado, tão barroco, tão balanguandãs ofereçamos o deboche em cima dos debochados! Essas alfinetadas são constantes, e são feitas com a rara sensibilidade de provocar (e muito!) sem necessariamente agredir as pessoas que, queiram ou não, são forçadas a encarar diversos tabus extremamente fortes em nossa sociedade, pedofilia, heterossexualidade e homossexualidade, castidade, incesto… E assim, a arte terá cumprido o seu papel com grande sucesso: provocar de uma forma valente e lúcida. Neste caso, de forma primorosa, com humor e muita elegância.

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